«Não é justificada, a atitude do governo português em banir a Huawei»

Em entrevista a Lusa, o professor catedrático do Técnico, e autor dos livros “Ciência, Tecnologia e Sociedade” e “Inteligência Artificial”, considerou que "não é justificada", a atitude do governo português em banir a Huawei  e advertiu  que a redução da concorrência tem sempre impacto no custo para o consumidor.
9 de abril, 2024
Arlindo Oliveira

Em entrevista a Lusa, o professor catedrático do Técnico, e autor dos livros “Ciência, Tecnologia e Sociedade” e “Inteligência Artificial”, considerou que «não é justificada», a atitude do governo português em banir a Huawei  e advertiu  que a redução da concorrência tem sempre impacto no custo para o consumidor.

Arlindo Oliveira, tem sido nos últimos tempos uma voz avalizada e ponderada nas questões de transformação digital, como a web3, inteligência artificial, 5G, entre múltiplas questões ligadas a inovação tecnológica e o impacto das mesmas na sociedade.

Arlindo Oliveira disse a entrevista que deu a Lusa que discorda «das políticas adotadas na Europa e nos Estados Unidos» em banior a Huawei.

A China «tem um regime que tem e não é, seguramente, uma democracia ocidental, mas eu acho que a maneira correta de melhorar as condições de vida e o relacionamento com a China não é afastar e bloquear a China e a tecnologia chinesa», considera o investigador do INESC-ID.

Aliás, «Portugal aí – não estava sozinho – mas foi dos poucos que proibiu a Huawei. Agora, nos Estados Unidos, o Tiktok também está sob uma regulação pesada que eventualmente irá conduzir ao próprio fecho do Tiktok e ao reforço das redes sociais da Meta», que já existem, prossegue.

Ora, «na prática, vamos assistir a uma redução da concorrência, a uma redução da qualidade de serviços que são prestados ao consumidor e a um isolamento ou uma tentativa de isolamento da China que eu acho que só vai contribuir para piorar as relações entre o Ocidente e a China», reforça Arlindo Oliveira.

O professor e investigador reitera que o facto de Portugal ter ligação a Macau, uma das duas regiões autónomas da China, «devia ter uma responsabilidade especial na manutenção de canais abertos com Macau e, através de Macau, com a China, e não devia estar entre os países mais agressivos nesta componente de limitar a tecnologia chinesa».

E o «argumento de que os produtos da Huawei podem ser usados para espionagem também se aplica aos produtos de outros fabricantes e, portanto, parece-me que não é uma boa desculpa, entendo que não há razão para isso e acho que a posição de Portugal tomou não é justificada», sublinha.

Até porque tentar excluir a China do mercado central é estar a «partir o mundo em dois» e partir em dois é «mau do ponto de vista político e da defesa dos direitos humanos, é mau de um ponto de vista económico e, acima de tudo, é mau de um ponto de vista estratégico«, argumenta, recordando que o mundo já viveu partido em dois.

E agora «estamos a caminhar para lá rapidamente outra vez», lamenta Arlindo Oliveira.

«Viver no mundo partido em dois, numa altura em que a tecnologia é o que é, em que as armas nucleares são o que são, em que a manipulação social através de tecnologia é o que é (…), é muito perigoso e acho que a evolução positiva que houve quando acabou a Guerra Fria estamos agora em riscos de inverter», não só por causa da Rússia mas também devido à China, adverte.

Sobre quem domina a inteligência artificial (IA), o investigador é perentório: «Neste momento, o domínio é perfeitamente claro das empresas norte-americanas e do conglomerado de empresas e Estado chinês».

«Estão muito à frente na inteligência artificial de qualquer outro país (…), para nós são mais visíveis as empresas americanas, pelos produtos que usamos, mas dentro da China a realidade é diferente e, portanto, há um domínio enorme», sublinha.

Em suma, «tanto a China como os Estados Unidos estão muito à frente nestas tecnologias e a Europa está a correr um bocadinho atrás e só não usamos mais tecnologia chinesa por razões geopolíticas».

Com informações Lusa