Estudo revela que 28% dos trabalhadores temem que a tecnologia possa absorver os seus empregos

O estudo Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte, identifica as principais  tendências a nível de capital humano e recursos humanos no contexto empresarial.
3 de abril, 2024

À medida que as mudanças tecnológicas e culturais estão a reestruturar o mundo do trabalho, o foco no fator humano assume-se como o principal elemento na criação de valor  acrescentado para as empresas. Os líderes, muitos dos quais já conscientes desta mudança, estão a  encetar esforços para transformar esta perceção em estratégias concretas que permitam alavancar o  potencial humano.  

A conclusão é do estudo Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte, que identifica as principais  tendências a nível de capital humano e recursos humanos no contexto empresarial. A edição deste ano destaca que, naquilo que a Deloitte descreve como um “mundo do trabalho sem limites”, o desempenho  humano – definido como o ciclo de reforço mútuo entre os resultados empresariais e humanos – mostra  que, em vez de priorizar as questões empresariais em detrimento dos resultados humanos, as  organizações devem adotar uma abordagem de sustentabilidade humana como forma de melhorar os  resultados para os trabalhadores, clientes e sociedade em geral.  

De acordo com Nuno Carvalho, partner da Deloitte, “apesar de assistirmos a uma aceleração geral da  utilização da tecnologia, muito potenciada na área da inteligência artificial, deverá existir uma consciência  real da importância do papel que as Pessoas têm nas organizações e na sustentabilidade das empresas. Essa poderá ser a chave para o sucesso das organizações, numa altura em que as abordagens tradicionais  da forma como trabalhamos caem em desuso. É cada vez mais um fator crítico de sucesso apostar na  sustentabilidade humana das organizações, dos mercados e da sociedade como um todo

Priorizar a sustentabilidade humana – a capacidade de criar valor em benefício das pessoas em vez de  olhar para elas como fonte de valor – é, hoje em dia, não apenas um “nice to have” mas um “must have”  para que as empresas possam obter melhores resultados financeiros e criar um impacto positivo na  sociedade. Afinal de contas, são os seres humanos, mais do que quaisquer ativos físicos, que impulsionam  o desempenho e o crescimento das organizações. 

O Global Human Capital Trends 2024 da Deloitte identifica assim oito tendências que mostram como uma  combinação de resultados empresariais e humanos desempenha um papel importante no sucesso  organizacional: 

Valorização da sustentabilidade humana. O valor da sustentabilidade humana exige que as  organizações se concentrem menos no quanto as pessoas beneficiam as organizações, e mais no  quanto a sua organização pode beneficiar as pessoas. Mais de metade das organizações (76%)  reconhece a importância da sustentabilidade humana para o seu sucesso – mas apenas 46%  afirmam estar a fazer algo para abordar esta questão. O estudo deste ano torna claro que as  organizações que conseguem colmatar essa lacuna têm quase o dobro da probabilidade de  alcançar os resultados financeiros desejados e o dobro da probabilidade de alcançar resultados  humanos positivos. A quantificação do progresso nesta área também pode ser difícil de medir,  com apenas 19% dos líderes a afirmarem ter métricas muito fiáveis para medir a componente  social do ESG e 29% a afirmarem que têm um entendimento claro de como o conseguir. Outro  dado destacado pela Deloitte é uma lacuna entre as percepções dos líderes das empresas e dos  trabalhadores. Apesar de 89% dos executivos dizerem que a sua organização está a promover a  sustentabilidade humana de alguma forma, apenas 41% dos trabalhadores inquiridos dizem o  mesmo, e só 43% afirmam que as empresas onde trabalham os deixaram em melhor situação do  que quando começaram. Quanto aos obstáculos enfrentados pelos trabalhadores, 53%  identificaram o aumento do stress no trabalho como o principal desafio, seguido da ameaça de a  tecnologia absorver os empregos (28%). 

Uso da transparência para criar confiança. Na era da interconectividade global, os trabalhadores  de uma empresa deixam na sua atuação um rasto de dados que pode dar aos líderes uma  visibilidade microscópica do funcionamento das organizações e dos seus colaboradores. Esta  transparência de dados pode criar valor partilhado tanto para os trabalhadores como para as  organizações, quando gerida responsavelmente; mas também pode trazer riscos, como violações  da privacidade ou da vigilância baseada em inteligência artificial. A larga maioria (88%) dos líderes  afirma que um foco crescente na confiança e transparência entre os trabalhadores e a  organização é importante para o sucesso do negócio, mas neste campo revela-se mais uma vez a  lacuna entre o saber e o fazer. Mais de metade (52%) está a tomar algumas medidas para  aumentar a confiança e a transparência, mas apenas 13% estão a fazer o suficiente para obter  progressos significativos. A mudança é cada vez mais necessária, considerando que as  organizações que criam efetivamente transparência e confiança têm duas vezes mais  probabilidades de alcançar os resultados empresariais e humanos desejados. 

Um olhar diferente para as métricas de produtividade. À medida que o trabalho se torna mais  colaborativo e exige competências mais sofisticadas e menos quantificáveis, as métricas  tradicionais de produtividade estão a perder a sua eficácia. De facto, 74% dos inquiridos  afirmaram que procurar melhores formas de medir o desempenho dos trabalhadores para além  da produtividade tradicional é muito ou extremamente importante. No entanto, apenas 40%  afirmaram estar a fazer alguma coisa e apenas 17% consideram que a sua organização é eficaz na  avaliação do valor criado por cada trabalhador para além das métricas tradicionais. A Deloitte  considera que as organizações devem focar a sua atenção na medição do desempenho humano  como forma de equilibirar os resultados comerciais e os resultados de sustentabilidade humana,  apontando que as organizações que colmatam a lacuna entre o saber e o fazer têm 1,7 vezes mais  probabilidades de alcançar os resultados comerciais desejados e 1,7 vezes mais probabilidades de  alcançar resultados humanos positivos.

O défice na imaginação. O avanço acelerado de tecnologias como a inteligência artificial  generativa está a marcar o tempo em que vivemos não só pelo seu caráter disruptivo, mas  principalmente pelas inúmeras possibilidades que abre. No entanto, um dos obstáculos que a  difusão destas ferramentas está a evidenciar é a dificuldade das organizações em imaginar novas  possibilidades de colaboração entre humanos e tecnologia. 73% dos inquiridos afirmam que é  importante garantir que a imaginação humana acompanha o ritmo da inovação tecnológica, mas  apenas 9% estão a fazer grandes progressos no sentido de alcançar esse equilíbrio. Trata-se de  algo extremamente necessário, uma vez que as organizações que abordam o problema do défice  de imaginação têm quase o dobro da probabilidade de alcançar os resultados empresariais e  humanos desejados. E a inteligência artificial veio para ficar: 70% dos trabalhadores estão  dispostos a delegar o máximo de trabalho possível à IA para poupar tempo e aumentar a  criatividade, e 75% das organizações a nível mundial tencionam acelerar a sua utilização da IA nos  próximos cinco anos, prevendo também uma perturbação significativa das atuais competências  dos trabalhadores. As organizações devem assim fazer do desenvolvimento de capacidades inerentemente humanas como a curiosidade, a empatia e a criatividade uma prioridade  estratégica para ajudar os trabalhadores e as organizações a fazerem parte de um futuro de  trabalho imaginativo. 

Espaços de criatividade, imaginação e exploração. Ao criar aquilo o que a Deloitte apelida “digital  playgrounds” – espaços seguros que incentivem a criatividade e a exploração intencionais, que  podem nem ser espaços físicos, massimplesmente um ambiente subjacente à cultura empresarial  – os trabalhadores podem experienciar as possibilidades do novo futuro tecnológico para  melhorar os resultados comerciais mais rapidamente. Mais de metade (65%) dos inquiridos  reconhece que a criação destes espaços é importante. No entanto, apenas 41% estão a fazer algo  a esse respeito. O relatório indica ainda que as organizações que conseguem colmatar esta lacuna  com sucesso têm 1,6 vezes mais probabilidades de atingir ou exceder os seus objetivosfinanceiros  e de proporcionar um trabalho significativo aos trabalhadores. 

Importância das microculturas no ambiente de trabalho. A maioria das grandes organizações  continua a seguir o modelo de uma cultura organizacional única, fixa e uniforme, imposta a partir  da direção, na qual os trabalhadores têm de se enquadrar. Mas, de acordo com o estudo, esta  abordagem tradicional da cultura corporativa de tamanho único está ultrapassada e é ineficaz  para a força de trabalho atual, mais diversificada e autónoma. A tendência inversa será no sentido  de as organizações capacitarem diversas microculturas locais adaptadas às necessidades de cada  equipa, mas que ainda assim se mantenham fiéis aos valores organizacionais fundamentais. Neste  sentido, as organizações que adotarem este modelo de microculturas têm 1,8 vezes mais  probabilidades de alcançar resultados humanos positivos e 1,6 vezes mais probabilidades de  alcançar os resultados comerciais desejados. Quanto às percepções dos inquiridos, os diretores  (60%) e os trabalhadores (71%) mais próximos do dia a dia do trabalho em si reconhecem a  importância das microculturas mais do que os seus líderes seniores. E 71% dos inquiridos afirmam  que o foco nas equipas e grupos de trabalho como locais para cultivar a cultura é extremamente  importante para o sucesso. Ainda assim, esta foi identificada como a tendência mais difícil de  abordar, com apenas 12% a fazer o suficiente para obter progressos significativos. 

A lacuna entre o saber e o fazer tem de passar pelos recursos humanos. Desbloquear o potencial humano e permitir que as organizações, os seus trabalhadores, parceiros e comunidades  prosperem está em grande parte dependente de uma mudança de perspectiva, que permita que  os recursos humanos passem de uma função isolada para uma abordagem multifuncional. 72%  dos inquiridos sabem que esta mudança de paradigma é importante, mas 31% dos diretores 

executivos afirmam que esta mudança é uma das três mudanças mais difíceis de abordar na sua  organização, e apenas 41% estão a fazer algo para progredir. No entanto, o estudo confirmou que  ao colmatar esta lacuna, as organizações têm 1,6 vezes mais probabilidades de alcançar os  resultados comerciais desejados e 1,7 vezes mais probabilidades de alcançar resultados humanos  positivos. 

Evoluir a capacidade de liderança para impulsionar o potencial humano. A recente revolução  digital do mundo exigiu, mais do que nunca, capacidades cada vez mais humanas no desempenho  de tarefas. Nunca como hoje as organizações tiveram acesso a dados sobre a força de trabalho e  ferramentas tecnológicas que permitem combinar de forma quase perfeita os resultados  empresariais e humanos. Ainda que a transformação tecnológica esteja numa fase ascendente,  moldando os processos e estratégias empresariais, o fator humano tem vindo a ganhar um novo  ímpeto, sendo um dos principais focos das organizações. No entanto, apesar dos líderes  reconhecerem o seu papel na humanização das organizações, muitos continuam a basear-se em  pressupostos ultrapassados. 30% dos executivos continuam a trabalhar de forma independente,  ao invés de se focarem numa liderança mais integrada e multifuncional que permita alcançar  melhores resultados e desbloquear todo o potencial humano. Assim, o estudo conclui também  que apenas 10% da força de trabalho e 22% dos líderes concordam que as suas organizações estão  a acrescentar valor para os colaboradores, havendo espaço para oportunidades de melhoria.