José Manuel Durão Barroso

«Faltam políticas ativas para atrair investimento estrangeiro»

Conversámos com o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, sobre a sua visão para a transformação digital.
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Encontrámo-nos com José Manuel Durão Barroso, no Building The Future, onde foi um dos principais oradores. Naquele que é o principal evento de transformação digital em Portugal, o ex-primeiro-ministro, abordou uma variedade de tópicos relacionados com a economia, tecnologia, política e sociedade.

Conversámos com o ex-presidente da Comissão Europeia, sobre a sua visão para a transformação digital.

Considerando o cenário atual, como você vê o impacto da transformação digital e da inteligência artificial nas sociedades, especialmente nas mais desfavorecidas?

Eu vejo a inteligência artificial como uma tecnologia verdadeiramente transformadora. Esta tecnologia não está apenas a alterar a economia, mas também as sociedades em geral. Isto vai refletir-se no emprego, na ciência, na geopolítica e até mesmo nas relações humanas. É uma rutura radical que está ocorrer e terá grandes impactos, tanto positivos quanto negativos. É importante reconhecer que estas transformações já estão em curso e que precisamos estar preparados para lidar com elas.

Quais são para si os principais impactos desta transformação tecnológica, tanto positivos quanto negativos?

Os impactos serão diferenciados. Há, por exemplo, o risco de automação de muitas funções atualmente desempenhadas por pessoas, o que pode resultar em desafios significativos para o emprego. Estudos sugerem que uma parcela considerável de empregos na Europa poderá ser substituída devido à inteligência artificial. Isto pode ter um impacto positivo na produtividade a curto prazo, mas também representa uma ameaça social. Quanto aos países menos desenvolvidos, a sua capacidade de investimento em tecnologias de ponta é limitada, o que os coloca em desvantagem. No entanto, a inteligência artificial também oferece oportunidades para esses países, se souberem aproveitá-las adequadamente.

Como vê a posição da União Europeia em relação à regulamentação da inteligência artificial, considerando o papel pioneiro da Comissão Europeia neste aspeto?

A União Europeia tem sido um exemplo na regulamentação da inteligência artificial, nomeadamente quando introduziu o Regulamento Geral de Proteção de Dados. Esta regulamentação é fundamental para garantir a proteção dos dados pessoais em todos os países membros. No entanto, é importante encontrar um equilíbrio adequado na regulamentação, para não sufocar a inovação. Este é um desafio constante no diálogo com os Estados Unidos, que adotam uma abordagem menos regulatória, mas permitem maior inovação.

Na sua visão qual a principal razão que alguns países europeus, como Portugal, têm dificuldade em atrair investimentos de grandes empresas na área tecnológica?

Existem diversos fatores envolvidos, mas uma das questões-chave é a falta de políticas ativas para atrair investimento estrangeiro. Além disso, há uma cultura que parece valorizar mais o discurso do que a ação prática. Isto pode afetar a concretização de acordos e investimentos. Outro especto relevante é a falta de escala e de um mercado de capitais unificado na Europa, o que prejudica a capacidade de financiar novas iniciativas tecnológicas.

Quais deveriam ser as prioridades da União Europeia em relação à ciência e tecnologia no novo ciclo político que aí vem (2024-2029)?

 A Europa possui uma grande capacidade científica e tecnológica, mas precisa melhorar sua capacidade de traduzir a pesquisa fundamental em inovação de mercado. Isto requer um ambiente mais propício para o empreendedorismo e o investimento em startups. Além disso, é essencial continuar investindo em programas como o “Horizon Europe” para promover a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. Com o apoio adequado, acredito que a Europa tem grandes possibilidades de crescimento no campo científico e tecnológico.

Tal como na nossa conversa, na sua intervenção no Building The Future Durão Barroso destacou também o impacto da tecnologia, especialmente da inteligência artificial, na economia global. Dando enfase a rápida evolução da tecnologia e a transformação que a está a causar nos mais diversos setores, incluindo negócios, política e geopolítica.

Durão Barroso enfatizou ainda a importância da transformação digital e da transição verde para o progresso económico e social. Destacando o potencial dessas transformações para impulsionar o crescimento e abordar questões urgentes, como as mudanças climáticas e a sustentabilidade.

Em suma, entre a nossa conversa e a sua intervenção no evento, Durão Barroso fez uma reflexão abrangente dos desafios e oportunidades associados à tecnologia e à transformação digital, bem como a necessidade de uma abordagem colaborativa e proativa para enfrentar esses desafios e promover o progresso económico e social.